A pequena Vendedora de Fósforos
Personagens
Maria
Padrasto
Mãe
Nossa Senhora
Vendedor de Casas
Sra Rica 1
Sr Rico
Garotinha
Sra Rica 2
Narradora
Garota chata 1
Garota chata 2
Estrelinha
Começa com o musical a cidade canta.
Narradora — Era vigília de Natal. Numa época que poderia ser
hoje, num lugar que poderia ser aqui, com pessoas que poderíamos ser nós. Uma
menina, pobre, com sonhos...Como tantas. Maria, mais uma numa lista de tantas,
mais uma entre muitas. Maria e seu sonho.
Maria — Eu queria tanto ver o mar.
Crianças riem.
Garota Chata 1 — O mar? Ver o mar. Acorda Maria. Aqui no
sertão nem ta chovendo e tu quer ver o mar.
Garota Chata 2 — Devia era ver se vende as tranqueira do teu
pai, senão vai acabar apanhando tra vez.
Maria — Ma eu tenho um sonho. Queria ver o mar, minha
mãezinha disse que ia me levar pra conhecer as águas que turvam nos oi da
gente. Mar ela morreu.
Garota Chata 1 — Ih, lá vem ela falando da mãe tra véiz.
Garota Chata 2 — Disse que fica sonhando com ela. Sonhando
com fantasma. Deus me livre!
Padrasto — Maria! Maria!
Maria — Ai, minha Nossa Senhora, é o padrasto.
Garota Chata 1 — É agora!
Garota Chata 2 — É agora que tu apanha!
Garota Chata 1 — essa eu quero ver.
Padrasto — Cadê tu Maria? Cadê tu? Num dianta se esconde di
eu não, purque eu inxergo muito bem. Responde logo cadê tu.
Maria — Tö aqui, padrasto.
Padrasto — E o que é que tu ta fazendo aqui, que inda num
foi vender as coisa lá na cidade?
Maria — É que, é que hoje eu to tão cansada. Num to me
sentino bem.
Padrasto — Tu ta é com preguça menina. Ingrata! Se num ofsse
eu e meu coração generoso, tu tava morreno de fome. Oia, bem, espia só, que eu
num sô brigado a sustenta fio dos outro. Tu num é nada minha. Mar inda anssim,
cum toda minha bondade, eu te do casa e cumida. E o que eu peço? Só pra tu
vender essas coisa, inté caba tudim. E tu vende? Não!
Maria — Mar o que eu vendo, ninguém quer compra.
Garota Chata 1 — Um pente sem dente.
Padrasto — É pra pentear careca.
Garota Chata 2 — Um espelho que não reflete nada.
Padrasto — Esse é pra
mulher feia pensar que ta bunita.
Maria — E fósforos.
Padrasto — Purque todo mundo precisa alumiar sua vida. Ta
veno? Só coisa que tem utilidade. Mar como estamo na véspera de natal, vô së
bomzim. Vende só os fósfo. Vende tudim, aí eu guardo quele pãozim véi e mofado
pra teu de cume manhã de manhã. Mai se tu num vende...APANHA!
Garota Chata 1 — Corre Maria.
Garota Chata 2 — Corre que ta nascendo o dia.
Menino _ Vai logo pra cidade. Corre pra Teresina.
MARIA _ Teresina, eu preciso chegar no centro de Teresina. É
lá onde tudo acontece. Que os sonhos se tornam realidade, e onde eu sei que vou
encontrar o caminho pra fugir daqui. Vou agora pra cidade onde tudo acontece.
MUSICAL TUDO ACONTECE EM TERESINA
MARIA SAI CORRENDO
Maria — Ai, minha Nossa Senhora, mãezinha do céu. Purque que
a senhora foi casa cum uma peste dessa? Quando ele caso, inté fingiu gosta de
eu, mar agora. Ara, que é aquilo ali. Uma estrelinha?
Mãe — Sempre que uma estrela cai no chão, é uma alma que vai
pro céu.
Maria — E foiisso que a sinhora me disse quando foi se
embora e me deixô. Ai, mãezinha, to tão perdida.
ENTRA A NOSSA SENHORA DISFARÇADA DE LAVADEIRA.
Nossa Senhora — Que aflição maior do mundo é essa menina?
Maria —Uai! Quem é a senhora?
Nossa Senhora — Sou uma lavadeira. E você quem é?
Maria — Me chamo Maria.
Nossa Senhora — Maria. Que lindo nome. O meu também é Maria.
E por que está tão aflita?
Maria — É que sô sozinha nesse mundo. E to tão perdida.
Nossa Senhora — Sossega o coração, fia. Escuita o vento e
sente a vida que corre. Espia só, iscuita bem.
O SOPRO DESSE VENTO
AS SEMENTE AS FRÔ
INTÉ AQUELA ESTRELA, NO FIRMAMENTO
TUDO QUE DEUS FEZ
TÁ CHEGANDO AO MUNDO
PELA PRIEMIRA VEZ, PELA PRIMEIRA VEZ
NUM HÁ NADA QUE APRESSE
NEM FORÇA QUE ENFRAQUECE
O JORRO DESSAS COISA
QUE LA DE CIMA VEM
TUDO QUE DEUS FEZ, TÁ CHEGANDO AO MUNDO PELA PRIMEIRA VEZ
PELA PRIMEIRA VEZ.
Maria — Nossa, que de repente me deu uma alegria tão grande
no coração. Igual a quando eu vi a Minha Santinha venerada.
Nossa Senhora — Segue seu caminho fia. Quando tiver escuro,
acende o que tiver pra te iluminar e vai ver o caminho de vorta pra casa. Segue
fia, segue.
SAI.
Entram o pato e a velha.
Pato — Sai, me deixe que sei o que eu faço.
Ele tenta voar, mas não consegue.
Pato – Não ri não,
hein. Não ri não. Não ri.
Velha —Eu num disse?
Pato — Eu vô avuá! Eu vou avuá! Um dia eu ainda vou avuá!
Velha — Nem toda ave voa!
Pato — E nem toda
velha, sabe tudo.
Maria — Com licença.
Velha — Ué, menina. De que buraco ocê saiu?
Maria — Num saí de buraco nenhum, que num sô tatu! Me chamo
Maria.
Velha — Ah, Maria. Pois me ajuda a expricá pra essa pato com
miolo de galinha que tem ave que num avoa.
Pato — Num ofende não.
Maria — ö seu marreco. Seu marrequinho, marreco num foi
feito pra voar.
Pato — E crian;a que se atreve, mete nariz donde num deve!
Pedaço num é teco e pato num é marreco. Sou um pato!
Maria — Desculpa.
Pato — Depois que inventarum desculpa ninguém mais apanha!
O pato vai tentar voar novamente e cai de novo.
Pato — Tão rindo de que? Tão rindo de que? Inté mais vê.
Maria — ESPERA
PATINHO PATO, SEU PATO
ESPERA PATINHO PATO
SERÁ
TARVEIZ QUE SUA SENHORIA
AVE-ALIMAR DE TANTA CELÊNCIA,
NUM
PODIA ME AJUDÁ?
PATO — AGORA JÁ TÁ MIÓR, MININA
ME
DIZ O QUE OCÊ QUER?
MARIA — ME DIZ QUE LUGAR É ESSE
EU
ACHO QUE TÔ PERDIDA
PATO — NA VIDA
QUEM PROCURA ACHA
OU DE PROCURÁ SE RACHA
MARIA — MAS QUEM HOJE DÁ UMA AJUDA
AMANHÃ ENCONTRA QUEM LHE ACUDA
PATO — MAS QUEM SAI PRA CAPINÁ
NUM
PODE IR SEM INXADA
E QUEM
SAI PELO MUNDO
CONHECE AS PARADA
MARIA — PRA QUEM TÁ PERDIDO
QUARQUE CAMINHO É RUMO.
QUARQUÉ FRUTA TEM SUMO
QUARQUÉ FUMAÇA É FUMO
PATO — Intão, qual é sua informação?
Maria — Pra donde fica a cidade mermo? Acho que me perdi.
Velha — E que diabo uma menininha como tu, quer indo pra
cidade?
Maria — Tenho que ir. Tenho que...fazer umas coisa.
Pato — A cidade é perigosa.
Velha — A cidade é como um gigante.
Pato — Que engole os homi, e os sonhos também.
Velha — E ela adora criancinhas.
Maria — Num tem jeito. Tenho que ir.
Pato — Pois é só seguir o barulho, que é o vento, que é o
bafo, do gigante.
SAEM. MARIA CONTINUA.
Narradora — E assim, com MEDO de voltar pra casa sem vender
nenhum fósforo, Maria seguiu rumo à cidade. Apesar de nunca ter ido mesmo ä
cidade e tudo parecer estranho, ela tinha muito mais medo do que já tinha
certeza do que do desconhecido.
Por favor pai da minha oração
Me responda com uma canção
Tantos anos se passaram sobre mim
E agora eu pergunto enfim
Nosso pai está tão além
Mas eu sei que ele é meu amigo
Eu só quero que todos também
Possam celebrar comigo
Eu ouso olhar
Bem alto lá no céu
Quem sabe um dia eu entenda o seu papel
De sacrificar
Um filho por todos nós
Quero ver se um dia alguém escuta a minha voz
Por favor pai da minha oração,
Eu te peço só um pocuo de atenção,
Não sei se fiz bem, ao seguir este caminho,
A estrada é torta, estou tão sozinho
Eu penso em rezar
Mas já não seui como fazer
Mas agradeço todo dia
Porque podes me entender
Eu ouso sonhar
Bem alto para o céu
Quem saber um dia eu consiga um papel
Neste grande teatro
Que eu sempre sonhei
Mesmo que eu demore a entender o que eu imaginei
Acenda uma luz que guie a minha escolha, pois não quero
viver sempre preso a esta bolha, me mostre outro caminho pra viver longe daqui,
porque lá fora é tão escuro e eu não sei pra onde ir. Acenda uma luz.
MARIA _ Ei, esperem um momento. Quem são vocês?
ATOR : Nós? Nós somos atores.
MARIA: Atores? E vocês fazem o que?
ATOR 2: A gente vive pra divertir, encantar e emocionar as
pessoas.
MARIA: Ah que legal. E vocês trabalham de que?
ATOR 2: Tá vendo. Ninguém mais respeita a gente. Ninguém
amis acredita na arte do teatro. Vamos embora, vamos procurar outro lugar.
MARIA: Ei, ei, me desculpem... Eu não quis ofender. Eu só
não entendo direito...nunca fui a um teatro antes.
ATOR 1: Estão vendo só...Não é culpa dela. Ela nunca foi ao
teatro. Não sabe como é maravilhoso o mundo do teatro, o mundo da arte cênica,
que pode de repente te transportar para qualquer lugar do mundo.
MARIA: Pode me levar pra qualquer lugar do mundo?
ATOR 3: Claro menina, tudo que você tem que fazer é só
sonhar. O teatro vive na sua imaginação.
MARIA: E no teatro, eu posso encontrar o mar?
ATOR 1: Claro, menina. É só fechar os olhos e
imaginar...Aqui bem na sua frente...está ouvindo? Ouça o barulho...sinta o
vento soprar em seus cabelos, cheire a brisa do mar...Um mar azul, imenso, tão
grande que os olhos se perdem de tanto olhar...E quando você abre os olhos o
que você pode ver?
MARIA: Ah, meu Deus...é lindo demais. É bonito pra caramba.
É o mar...é o mar...
ATOR 1: isto menina, é fazer teatro. É fazer você acreditar
no que não existe, mas mesmo assim você acredita.
MARIA: Mas...cadê...cadê o mar?
ATOR 1: O mar, está dentro de você agora;
ATOR 2: na sua imaginação.
ATOR 3: No teatro do seu coração.
MARIA: esperem, pra onde estão indo?
ATOR1: Continuar procurando quem precisa de um pouco de
teatro para ser um pouco mais feliz. Até logo menina.
TODOS: Até logo.
PARCA — Estava a vida no seu lugar, veio a morte lhe fazer
mal, a vida na morte, a morte no homem no pau, o pau no cachorro, cachorro em
criança, criança na velha e a velha a fiar. A velha a fiar. A velha a fiar!
Entram várias pessoas fazendo a cidade.
COMO TANTAS A CIDADE ENCANTA
A PRIMEIRA VISTA, A PRIMEIRA VISTA
MARIA, MARIA, SERÁ MAIS UMA NA LISTA
COMO PODE EM SÃ CONSCIËNCIA?
SE NINGUÉM SE
ESPANTA! SE NINGUÉM SE ESPANTA.
COM SUAS TRISTEZAS,
SEUS FRIOS E SUA INFÄNCIA.
MARIA É MESMO TANTAS
NO VENTRE DA CIDADE
EM NOITE DE NATAL
O CORAÇÃO AFLITO
TRÊS ULTIMOS PALITOS
A VIDA É SEMPRE IGUAL
MARIA É COMO TANTAS
E NINGUÉM MAIS SE ESPANTA
NA CIDADE A VAGAR.
MARIA — Fósforos! Quem quer comprar fósforos?
Vendedor — Sonhos! Eu
vendo sonhos. Quem quer comprar?
Maria — Fósforos! Olha o fósforo. Quem quer comprar
fósforos?
Vendedor — Olha o sonho. Quem quer um sonho? Olha o sonho
quentinho no ponto.
Maria — Olha o fósfor! Quem quer comprar fósforo?
Vendedor — Menina. Pré com isso. Esse ponto é meu. Eu sou um
vendedor.
Maria — Eu também tenho o que vender.
Vendedor — Vender? E o que é que você tem tanto aí, pra
vender? Só porcaria. Eu vendo sonhos. Qual é seu sonho menina?
Maria — Meu sonho? Era ter minha mãezinha de vorta lá em casa.
VENDEDOR — Casa, casa, entre e veja
Casa, casa, qualquer que seja
Vendemos as melhores casa da cidade
Pra vida toda você tem felicidade
A baixo esforço, a baixo preço,
a baixo custo
A hora é essa, aproveite, o preço é justo.
Casa!
Maria — Brigado, moço. Mas num tenho dinheiro pra comprar
nada não.
VENDEDOR — Num tem dinheiro pra comprar e também não deve
ter licença pra vender.
Guarda! Polícia!
Maria — Licença pra vender?
Policial — Diga meu caro amigo.
VENDEDOR — Eu estava aqui, ocupando meu sagrado ofício de
vender sonhos, e esta menina, veio no meu ponto, tentar roubar a minha
freguesia.
Policial — Roubar? Você tentou roubar? Mas roubar é crime!
Maria — Mar eu num roubei nada não.
Vendedor — Mas planejou. E planejar roubar também é crime.
Policial — Estás presa!
Maria — Pois pra me prender, vai ter que correr!
SAEM CORRENDO.
Maria — Ai, que essa correria me deixô com uma fome. E num
vendi nadica de nada ainda.
Senhora Rica 1 — Vamos marido vamos.Corra!
Sr. Rico — Estou indo, estou correndo. Mas antes eu tenho
que comer um pedacinho mais...
Senhora Rica 2 — Ai, lá está ela. Marido corra.
Sr. Rico — Estou correndo.
Senhora Rica 1 — Ela chegou e tem muito mais sacolas que eu.
Ai, que ódio!
Senhora Rica 2 — Ela comprou mais que eu marido. Não posso
ficar por baixo.
Srs. Ricos — Estou morrendo de fome.
Sras Ricas — Que fome que nada!
Sra Rica 1 — O que mais importa hoje é o que temos que
comprar.
Sra Rica 2 — Comprar!
Srs ricos — Comprar?
Maria — Dá licença. Ouvi dizer que a senhora quer comprar.
Então compra esses fósforos.
Sra rica 1 — Fósforos?
Sra rica 2 — Pra que eu ia comprar fósforos?
Sra Rica 1 — Ela ofereceu pra mim, sua inxirida.
Sr Rico 1 — Mas
querida, nós não precisamos de fósforos.
Sr Rico 2 — Para isso nós temos isqueiros.
Sra Rica 1 — É. Mas ela não tem fósforos. Eu vou querer?
Maria — Vai?
Sra rica 2 — Se ela vai querer eu também vou.
Maria — Tombem?
Sra rica 1 — Não
pode. Porque eu vou ficar com todos.
Sra rica 2 — Não. Eles são meus.
Sra Rica 1 — São meus. (BRIGAM)
Sra Rica 1 — Eu vi primeiro larga. (RASGAM OS FÓSFOROS)
Sra Rica 2 — Ah, agora você pode ficar?
Sra Rica 1 — E pra que eu vou comprar o que está estragado?
Sra Rica 1 — Vamos marido. Material de péssima qualidade.
Sra Rica 2 — Péssima, péssima.
Maria — Essa Não. Estão todos estragados? E agora como eu
vou voltar pra casa? Só ficaram três.
ENTRA O VELHO E SUA NETA
VELHO — Aninha, vamos. Temos que comprar logo a sua boneca
nova. Esta velha já está um lixo. Que nojo! (Joga a boneca no lixo)
Ana — Mas eu gosto dela. (VAI PEGAR A BONECA) Quem é você?
Maria — Me chamo Maria.
Ana — E o que você ta fazendo aí no chão?
Maria — Nada. Agora num tem mais nada pra fazer. Essa boneca
é sua?
Ana — É sim. O nome dela é Mimi.
Maria — Bonita. Do jeito que eu sempre sonhei.
Ana — Então fica com ela. É sua. Dada de presente.
Maria — Brigada.
Velho — Aninha, eu já lhe disse pra entrar. Ora, o que é que
você faz aí conversando com estes vagabundos? Venha, vamos. Sabe-se lá se esta
menina não é uma assaltante.
NARRADORA — Compaixão. Este é um exercício que nós muitas
vezes esquecemos de praticar. Porque é muito difícil olhar para o outro e
enxergar algo mais que um rosto desconhecido. É muito difícil ver no outro um
irmão. E Maria, estava sozinha naquela noite de natal. Numa cidade sem
conhecidos, com fome, com frio, e o pior, sem mais nenhum sonho.
Maria — Mimi. Eu to tão sozinha. Num tenho ninguém e você é
tão bonita. Quer ser minha amiga? Fala comigo! Fala comigo! Então vai embora.
Vai embora...Mãezinha. Por que é que a
senhora num me levou junto tombem? Eu queria tanto de ta junto da sinhora.
NOSSA SENHORA — Quando tiver escuro acende uma luz que ela
vai alumia o caminho de vorta pra casa.
Maria — Acende uma luz. Inda tem três fósforo que num
estragô. Tô cum tanta fome.
MUSICAL SOBRE A MESA
Maria — Mai pra onde foi tudo? Tinha tanta cumida aqui. Foi
o fósforo que apagou. Se eu rica um outro, será que a comida vai vortá?
Ela risca, mas quem volta é a boneca.
O QUE DIZ MEU CORAÇÃO?
SAUDADE! SAUDADE! SAUDADE!
E MAIS NADA DIZ!
APENAS OUVE ESTA VERDADE. NO FIM DO TEMPO ESTÁ UM OUTRO
TEMPO
NO FIM DA ARTE A ETERNIDADE.
MARIA — É a bonequinha. Vorta pra mim, Mimi. Fala comigo.
Fala comigo.
Acende outro fósforo.
Mãe — Maria!
Maria — Mãe! É a senhora mermo?
Maria — Minha filha. Quando uma estrela desce na terra, é
uma alma que vai pro céu.
Maria — Mãe, pois faz descer uma estrela Mãe. Faz descer uma
outra. ME leva também mãezinha, num me deixa outra vez.
Fica desesperada riscando os fósforos.
Maria – Mãe...mãe...me leva junto com a estrela.
AMAR
AMAR
MAIOR MISTÉRIO DA VIDA É O AMAR
MARIA — Pai, Mãe, arguém me ajuda a olhar o mar?
Entra o presépio. Música CONTE UMA HISTÓRIA.
MARIA _ Mas o que é isso? Eu to sonhando outra vez? É o
grupo de teatro, com uma apresentação do menino Deus. É o nascimento do menino
Jesus.
Professora: Sim, eles estão fazendo um presépio vivo.
MARIA: Um presépio vivo?
Professora: Não sabe o que é isso? É uma encenação do
nascimento do menino Jesus, olhe só. Aqueles são os três reis magos: Belchior,
Balthazar e Gaspar. Eles vieram trazer presentes para homenagear o rei dos
reis.
MARIA: O rei dos reis? E
onde ele está?
PROFESSORA: Ali, na manjedoura. Aqueles são Maria e José,
seus pais. E dentro da manjedoura está o menino Jesus.
MARIA: Ele é lindo...posso pegar? (Ela o pega no colo) Por
favor menino Jesus, eu não sei se posso pedir alguma coisa, mas se eu pedir não
é por mim...olhai pra todas as criancinhas do meu Piauí, que passam fome, que
vendem coisas no meio da rua, que são maltratadas pelos pais, e daí a elas uma
luz.
PROFESSORA: Menina, qual seu nome?
MARIA: Maria.
PROFESSORA: E você já comeu hoje?
MARIA: Não senhora.
PROFESSORA: E onde estão seus pais?
MARIA: Só tenho um padrasto...que ...que...
PROFESSORA: Ele te fez sair na noite de natal pra vender estes
fósforos?
MARIA ACENA QUE SIM
PROFESSORA: E você está estudando?
MARIA ACENA QUE NÃO.
PROFESSORA: Então menina, venha comigo.
MARIA: Pra onde a senhora vai me levar...?
PROFESSORA: Primeiro você vai ceiar comigo. Depois a gente
vai virar a página deste livro.
MARIA: Virar a página do livro?
PROFESSORA: Você mesma vai contar sua história Maria. Porque
hoje é céspera de natal, mas o nascimento do menino Jesus é pra ser celebrado
todos os dias. Porque a vida é um eterno natal.
A VIDA É UM MUSICAL
FIM
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