Texto- Clarice Lispector/
---------------(ordem das falas do elenco dentro do espetáculo)
1- Mazé:
/Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
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2-Merilane:/ Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
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3-Leonor:/ Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a
presença. Mas ás vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer
–se absorver a outra pessoa
toda.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
4 -Mazé:/ É curioso saber quem sou. Quer dizer, sei- o bem, mas não
posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer por que no momento em que tento
falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente
no que digo
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5-Luís:/ Porque eu fazia do amor um cálculo matemática errado:
pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as
incompreensões é que se ama verdadeiramente. -------------------------------------------------------------------------------------------------
6-Mazé:/ Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.
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7-Luís:/Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas
tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
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8-Luís:/ Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que
não entendo-quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que
entendo, não sei me entregar á desorientação.
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9-Merilane:/ Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas
palavras/ Sou irritável e firo facilmente/Também sou muito calmo e perdoo
logo/Não esqueço nunca/Mas há poucas coisas de que eu me lembre.
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10-Merilane:/ Não quero ter a terrível limitação de
quem vive apenas do que é passível de fazer sentido, Eu não: quero uma verdade
inventada.
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